Dia desses, recebi em meu consultório uma paciente com diagnóstico de neuromielite óptica. Inicialmente, considerei tratar-se de uma variação da conhecida e temida esclerose múltipla (EM). Afinal, durante longos anos acadêmicos sempre colocaram tais possibilidades no mesmo grupo. No entanto, devido a sua baixa incidência em meu currículo, resolvi pesquisar tal injúria afim de evitar maiores contratempos de conduta. Fato é que a neuromielite óptica, também chamada de Doença de Devic, foi durante muitos anos considerada uma variante da EM. Hoje, aceita-se que refere-se a uma patologia com curso e tratamento diferentes. Embora não existam ensaios clínicos randomizados que sustentem a terapia farmacológica sugerida para essas situações, os estudos epidemiológicos disponíveis, mesmo que cientificamente questionáveis, aconselham a instituição de imunossupressores como azatioprina, prednisolona ou rituximabe como opção medicamentosa (1). A azatioprina na dose de 2-3mg/kg/dia refere-se a primeira opção. A prednisolona deve ser prescrita na dose de 1mg/kg/dia por 2 meses com redução gradual a posteriori até chegar-se a 10mg/dia. Na fase aguda da mazela pulsoterapia com metilprednisolona endovenosa (1g/dia) de 3 a 5 dias pode ser indicada. O maior imbróglio encontra-se na diferenciação entre as duas patologias. Para confirmar-se esse complexo e incomum diagnóstico são necessárias certas características clínicas e imaginológicas. Ignorar tais etapas pode gerar um lapso terapêutico com consequências ao doente. Autentica-se tal hipótese quando o paciente apresenta quadro de neurite óptica acompanhada de lesões medulares, isto é, mielite transversa (2). E essas últimas injúrias devem ser verificadas através de uma ressonância da coluna vertebral. A ressonância de encéfalo é outro facilitador nesse imbricado processo, visto que, na doença de Devic, seus resultados devem ser, geralmente, normais (2). Alguns especialistas defendem que um exame de imagem cerebral não característico de EM, mas alterado, também pode estar associado a neuromielite. Contudo, as análises que geram suspeição mais robusta é a medida laboratorial da IgG NMO e da AQP4 anticorpos (aquaporina 4). O primeiro tem um potencial diagnóstico de 37% e o segundo de 90%. São importantes por não estarem alterados em casos de esclerose múltipla. Portanto, frente a uma possível doença desmielinizante deve-se tomar cautela e observar meticulosamente alguns pontos. Isso reduzirá o risco de erro diagnóstico e de conduta.