A cicatrização de uma ferida cirúrgica é fato comum ao dia a dia de um cirurgião. Todavia, muitos deixam de lado o processo fato esse que, muitas vezes, ignora situações complicantes que poderiam ser evitadas. Desse modo, como cirurgião, julguei profícuo revisar como se dá o processo cicatricial. É comum dividir a cicatrização de uma ferida em três fases: inflamatória, proliferativa e de maturação.
Fase Inflamatória: Essa fase tem inicio imediatamente após a lesão com a liberação de substâncias vasoconstritoras como tromboxanos e prostaglandinas. A cascata de coagulação é estimulada para promover a hemostasia. Os neutrófilos são as primeiras células a chegar à ferida e tal processo se dá dentro de 24 horas. Eles proporcionam a liberação de radicais livres que terão atividade anti-bacteriana. Dentro de 48-96 horas, os macrófagos migram para a ferida e irão liberar citocinas e fatores de crescimento que darão inicio a próxima fase.
Fase Proliferativa: Essa fase inicia após o 4 dia da lesão e se estende por, mais ou menos, 15 dias. Se divide, basicamente, em quatro etapas: epitelização, angiogênese, formação de tecido de granulação e deposição de colágeno.
Epitelização: É o inicio do “recapeamento” da superfície lesada.
Angiogênese: É estimulada pelo fator de necrose tumoral alfa e promove a recapilarização para restaurar a circulação de sangue para e região.
Formação de Tecido de Granulação: Os fibroblastos e as células endoteliais migram para a ferida, granulando o tecido.
Deposição de Colágeno: Quando os fibroblastos e as células endoteliais são ativados passam a secretar colágeno tipo 1 que irá promover a contração da ferida.
Fase de Maturação: O colágeno passa a ser depositado de forma organizada. O colágeno da fase proliferativa é mais fino e, nessa fase, tal substância passa a ser mais resistente, aumentando a força tênsil da ferida. Esse força alcançará 80% de seu potencial original em 3 meses, mas jamais retornará a 100%.
Alguns fatores podem interferir no processo cicatricial. Entre eles, podemos destacar os fatores locais e os fatores sistêmicos.
Fatores Locais: Isquemia, infecção, técnica cirúrgica, corpo estranho e pressão tecidual elevada.
Fatores Sistêmicos: Diabetes, deficiências vitamínicas, hipotiroidismo, doenças hereditárias (síndrome de Ehler-Danlos), alterações da coagulação, idade, trauma grave, queimaduras, sepse, insuficiência hepática e renal, insuficiência respiratória, tabagismo, radioterapia, desnutrição e o uso de corticosteróides, drogas antineoplásicas, ciclosporina A, colchicina, penicilamina e nicotina.
Entendendo melhor o processo bem como as situações que podem interferir diretamente nele, a recuperação dos pacientes poderá se tornar mais rápida, eficiente e menos dolorosa.
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